quinta-feira, 30 de junho de 2011

Vá, saudade, vá

Com saudades estava de minhas palavras. Palavras que são minhas, por um momento apenas. As palavras são um pombo branco, e eu, o mágico, as liberto de minha cartola para o primeiro vôo.
Quando eu escrevo, sinto-me uma transmutação, uma transmissão de desejos e de sonhos. Sinto-me como uma cortina, e sinto o amor como o próprio vento.

Escrita a saudade, ela quase se vai. Porém, com saudades estou, ainda, dos meus desenhos, de desenhar. De imaginar mundos só meus, e que em preto pitam o branco papel. A vida, em escala de cinza, reclama um arco-íris, o qual imagino também.

Cores escolhidas, papel pintado. Saudade chora. O vento carrega o vapor do amor, que se condensa em gelada superfície. É o calor que se transporta. Coração frio, quentes vapores. Choques térmicos, lágrimas derramadas que mancham a pintura do papel.

Preto e branco, voltou a ser. O tempo tratou de levar as cores. Quentes e frias. Não levou consigo, porém, a saudade.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

A Curiosidade só matou o gato

Triste latido se ouvia quando a porta da madrugada se abria, e aos poucos, iam se apagando as luzes da triste cidade.

Lata reviradas, latidos bastantes. À luz da lua, firmavam-se os olhos sob a chuva que caía triste. Em casa de remédios fora procurar o fim de seu tormento, que ouvira rumores do feito de um gato.

Desgostoso da vida, aquele sabido cachorro, passou dias a procurar, com seu olfato invejável, o cheiro de tão precioso veneno, com o qual se matara seu amigo, o gato.
Mas não achou, porém, pois não tem cheiro a Curiosidade. Só restava agora esperar que tempo lhe fechasse os olhos.

Triste viralata. Late só, a meia noite.

terça-feira, 14 de junho de 2011

De tudo, cansei um pouco

Não sei se o velho sou eu, ou se é o mundo.
Me canso das canções e dos ventos.
Me canso da rotação do planeta, que egoísta, gira em torno de seu próprio eixo.
Me cansei dos rumores, das promessas, dos profetas.

Manhãs de domingo sem brisa, areias molhadas, mas quentes. As praias, cansei de olhar, e procurar curvas na linha do horizonte. Tardes frias, livros abertos. Páginas folhedas pelo vento, somente. Noites silenciosas, músicas interrompidas, luzes acesas e portas fechadas. Ponho-me a dormir sonos crus, pois cansei-me também de sonhar. Como viver, se de tudo, me canso um pouco?
De repente, acorda a vida na madrugada. Sorte a minha: cansei-me de me cansar.